8.12.05

cálido tato
como rugas de nuvem
que engolem
em suas dobraduras
ardor

suo calado

3.12.05

soa fino
suadouro
na toca do lobo
quando arma
desabo
qual pluma plana
seca
leve
dança


[my beibe]

25.11.05

leve
cerre que não solto
logo hoje, me perco

se corro
não ajo
disfarço

um lastro de espuma
e com uma fita
estica e afrouxa
o laço
"Arranco do meu crânio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto"

Augusto dos Anjos

["A Dança da Psiquê]
"Sem você a emoção de hoje seria a pele morta da emoção do passado"

Hipólito

[no filme "Amélie Poulain", de Jean Pierre Jeunet]
"É impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é"
Júlio Cesar

[citado por Gabriel García Marquéz em "Memoria de Mis Putas Tristes"]

10.9.05

menino maluco
que anda no mundo
pergunto se mudo
e ele se fala...

20.8.05

brilha o sol
reflete a rua
daqui a pouco
vem a lua

14.7.05

avessa
atravesso
à beira
do excesso

5.7.05

elementos


se peixes, azul profundo
então virgem, azul real
talvez leão, azul chama
mas gêmeos: azul céu

20.6.05

chamas


a luz está acesa. sentado na cama, pés no chão, tira o sapato e agora começa a roçar a meia contra o carpete, num vai e vem mecânico. sentada a seu lado, com uma roupa leve de algodão, ela ajeita umas revistas largadas na cômoda. ele contempla o rosa de sua pele. o olho percorre o ombro e desliza por dentro da blusa.

é a primeira vez que entra em seu quarto. não revela que se assusta com pôsteres de banda colados na parede à sua frente. coisa de menina, adolescente. isso coça mais ainda seus pensamentos.

ela conversa coisas que em sua cabeça não fazem o menor sentido. aquela luz acesa, forte sobre sua cabeça apenas lhe salva de não ficar aparentemente roxo diante dela. pensa atos que nunca teria coragem de concretizá-los... ao contrário dela.

observa a mão dela se mover em direção à sua perna. músculos tensionados. não consegue expirar. a mão exala calor de longe. sente queimar suas bochechas, assar suas coxas.

fica imóvel diante do movimento circular de seu dedo sobre a braguilha do jeans. solta a respiração e de repente começa a arfar. como um touro que percorreu toda a mata atrás de sua fêmea no cio. a mão dela, por dentro de sua calça, parece um útero, aconchegante, de onde nada se pode sair, nem um suspiro de calor.

algo explode, de súbito, e ele umedece sua mão, grande, larga, por entre as pernas dela. quase rasga-lhe o short ao deitar aquele corpo rosa e torneado. ele abre suas pernas vagarosamente e ela é dominada pelo calor de sua língua.

por minutos, esquece que a luz está acesa e a porta, entreaberta. o cheiro dela lhe contém e eles não se desvencilham de mãos e línguas e calor e ardor.

o celular dele toca. ele não quer, não vai atender. mas de repente acorda, exasperado... era o despertador lhe avisando que já são oito horas da manhã.
braço que me ata
tenta-me à força
periclito em sonhos
com um giro, um passo
à espera do laço

à espreita
quando se deita
cala e colo
Bonito,
um suspiro

se desperto,
desejo e ato

sopro de beijo

10.6.05

na minha cabeça
os pensamentos brigam
para ser o primeiro da fila...

25.5.05

cruz

menino grande
de tênis e cabelos brancos
preta, pretinha...

sopro gelado
beijo de longe
adeus

3.5.05

suporte, suporto, su porta


formiga
suporta
pedra, folha, fardo
mas não porta

peso nem ileso
sem abrir, medo
míope e fraca
não enxerga cinza

fumaça de mal-estar
fogo intenso
a cidade queima
é tarde...

talvez
leveza à distância
mas tinta acabará
porque a luz dorme
e a contaminação perdura

solvência no infinito
nasce por explosão
mais uma estrela

2.5.05

Família

Música triste para sentir saudade
Sentir calor de cobertas
Ajeitadas por mão que aperta
Como em roda de ciranda
Proteção
Útero

Dedilha-se saudade
Mãos atadas, mentes conectadas
Choro quando sentes dor
Sorrio quando o vento
Aquele...
Pousa no meu rosto

Se há riso sem motivo,
Não negue
Felicidade breve
Amor eterno

Boa noite

28.4.05

_uma homenagem a Antonio Gramsci
[não está na íntegra]


"A indiferença é o peso morto da história
É a bola de chumbo para o inovador
É a matéria inerte na qual freqüentemente se afogam
os entusiasmos mais esplendorosos
[...] Os fatos amadureceram na sombra
porque mãos, sem qualquer controle a vigiá-las,
tecem a teia da vida coletiva,
e a massa não sabe porque não se preocupa com isso
[...] Por isso, odeio os indiferentes"

19.4.05

sem-olhos

sombras que perduram
quando o fluido já acabou
vultos se arrastam
alastram
com palidez de desesperança

um real vale uma insensatez
gotas de umidade
vales de misericórdia

sem mais conseguir lutar
sem mais constituir lugar
amém


abril.2005

7.2.05

carnaval de bolinhas

aspira-se
maresia
como tudo
padecia
ao longe
já se ia

2.2.05

talvez fosse fome
mas ronronar interno:
ansiedade
saudade
vontade

30.1.05

leve o que lhe cor
credo, fogo, saia, torpor
só deixe de lado
[como que trapo]
cinza, sono, lapso
o que for


27.1.05

maio.2004

...

glamourosas baforadas
consequente embriaguez
mais dez minutos please
evoé baco...

curitiba... e um pouco quase muito de loucura
frio que aflige as espinhas
Tomie Ohtake para disfarçar
nada que corroa tanto quanto saudades
não de casa
pero de afago em sonhos distantes

quem sabe quando a realidade
retorno de lugar querido
não cidade
colo...

maio.2004
[cutucos]

trôpegos soluços
talvez as penas façam a cabeça afundar
remete-se ao quente da lanterna
e se há algo a ser iluminado
cabeça
pés ao quadrado... de calos
e quem sabe uma xícara bem quente
para ajudar essa pilha que acabou de acabar

só queria duas mãos
amarrar o cadarço
para não tropeçar
e se é frio agora
verão longe, mas está lá
quem sabe uma pedra de gelo
cubos para pensar
negativos para descer mais rápido

ela não acredita em espíritos mas se aquece toda noite com beijos de alguém-alma...

20.1.05

Um pouco de Pessoa para adoçar a eternidade

O mais é nada

Sonhe com as estrelas,
apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.

Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar,
sabe-se lá aonde.

As lágrimas?
Não as seque,
elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.

O sorriso!
Esse, você deve segurar,
não o deixe ir embora,
agarre-o!

Persiga um sonho,
mas não o deixe viver sozinho.

Alimente a sua alma com amor,
cure as suas feridas com carinho.

Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas não enlouqueça por elas.

Abasteça seu coração de fé,
não a perca nunca.

Alargue seu coração de esperanças,
mas não deixe que ele se afogue nelas.

Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Circunda-se de rosas,
ama,
bebe
e cala.
O mais é nada

Fernando Pessoa

14.1.05

atenção
a tensão
aversão
ah, seria...


13.1.05

tempo passa
nada se afasta
quando queremos e não podemos
passamos, deixamos, desistimos

paralisia de desesperança
ou medo de desventura
... saudade antecipada

quero que tudo mais
vá para o inferno


5.1.05

corda que me enforca

passatempo
pensamento
sentimento
desalento
só lamento...

3.1.05

átomo de saudade

um segundo mudo
sem nada a tecer
quase raro mas caro
para sentir um olhar
sofrer um suspiro

se toco seu sorriso
logo estremeço
fecho os olhos e emudeço
rubor que fuzila o peito
vai ao rosto e deixa um beijo

desconfio que esse átomo me visita toda noite em meus sonhos...

1.1.05

bons fluidos em 2005!!

a última do pós-Natal, 26.dezembro.2004


rara lua cheia
transportada da terra da saudade
a nuvem que a corta
é aquela mensageira
que veio me beijar
deixar-me benfazeja
do pós-Natal


a chama que outrora me afagou
é a mesma que foge de mim hoje
caminhos trocados
lenço molhado
mais um cubo no copo
vamos dançar a última música
sweet dreams...