27.11.07

As cigarras

Sofia tinha seis anos quando se pendurava em árvores. Era essa a época das cigarras. Todo dia havia uma, com seu grito ininterrupto, perto do anoitecer.
Ela sorria quando pensava num mundo cheio de cigarras. Porque algum dia alguém lhe contou que a cigarra começa a ganir quando cai o sereno e só pára quando morre, na noite do mesmo dia.
Para Sofia, e mais ainda para seu pai, quando a cigarra cantava era hora de descer da árvore e subir para casa. O dia começava infinito, mas acabava às seis da tarde.
Hoje, Sofia não as ouve. Por que não é mais criança. Mas não porque sua vida de adulto não seja cronometrada e cheia de regras. Só que, no lugar de seu pai, agora são impostas por ela mesma.


25.nov.2007