30.11.08

Paradoxo catarinense

As pessoas acendem uma vela para que cesse a chuva que destrói os morros.
Mas agradece de joelhos logo depois quando ela chega para abastecer casas há mais de semana sem água.

3.11.08

Eu quero vermelho
Mas adoro azul
Acabo pedindo verde
Depois vou trocar por preto
E sonho noites com amarelo

É assim que vivo
Numa eterna gangorra interna

12.6.08

Uma despedida


Em São Paulo, você pode sair com o sol a pino e um copo de café na mão, rezando para ele te esquentar o tempo duradouro que for, sob 16 graus...

***

- Quanto custa o condomínio?
- R$ 700.
- E o senhor sabe quanto querem de aluguel?
- Ah, a senhora tem de falar com a imobiliária.
- Só uma idéia... R$ 1.500?
- Daí para cima.

***

Não sei o quê, mas eu estava esperando alguma coisa para conhecer o parque Buenos Aires só três anos depois de morar a cinco quadras dele.
A gente se esquece do que se tem sempre ao lado. E só dá valor quando perde. Eu esperava a partida.

***

Hipocrisia é você clamar por novos desafios e, quando eles chegam, justificar sua preguiça dizendo que não era esse tipo de mudança que imaginava.

***

Mini-luto
Mini-cidade
Minha despedida
Macro-expectativa


12.mai.2008

1.3.08

Ciclos


Eu preciso de incerteza
Porque quero dar pulos quando a certeza chega

Quando ela vai embora
Já estou entupida de novos sonhos
É uma incerteza atrás da outra
E que tédio se tudo fosse plano

Sou movida a novidades
Persistência


A inquietude me leva a crer
Que ainda sou a mesma
Que continuo viva
Que não sou passiva

Que preciso do adiante
Para impulsionar o agora
Mesmo que eu nem saiba o que me espera
Eu busco, busco, busco
Abriu


A brecha é milimétrica
Passa um ensaio de sopro
Uma migalha de luz

Pelo menos passa
Era tudo de que precisava

12.2.08

Outono


As folhas já caíram
As flores não mais existem
Só seus frutos resistem

Para cair, deve secar por dentro
Esturricar
Não ter mais cheiro nem halo

No limite da fragilidade
A esperança só tem ao talo
Que se rompe ao vento forte

Durante a queda, um conforto
Haverá uma nova primavera

8.1.08

Ciclos


Todo mundo tem uma bolha pessoal
Onde pode inflar todos os desejos mais perfeitos
É onde ouvimos trilha sonora personalizada sem fone de ouvido
E quando desmoronamos por dentro sem ninguém desconfiar

Fim de namoro é igual a plano de saúde barato
Você paga por uma carência de três meses

Quando piscamos o olho
A bolha explode
A vida volta ao normal

Quero que a minha seja feita de cinema e dure três meses
Até que os revolucionários que estacam bandeiras dentro de mim vençam a guerra
Ou dêem-na como vencida



outubro.2006
Feriado parece uma bolha se esvaziando
Lentamente da hora em que levanto bêbada
À hora que vou dormir, talvez idiotamente sóbria

Um buraco de um centímetro em um turbilhão de 10 km de diâmetro
Mas suficiente para fazer o mundo despencar dentro de mim


2.nov.06